quarta-feira, 3 de abril de 2013

Irmãos Grimm - O Rei Sapo

O Rei Sapo ou o Henrique de Ferro
por Jacob e Wilhelm Grimm
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Era uma vez a filha de um rei que entrou no bosque e sentou-se à beira de um poço de água fresca. Ela se divertia jogando uma bola de ouro, seu brinquedo predileto, para o alto e pegando-a no ar. Numa das vezes, ela arremessou a bola alto demais e estendeu as mãos com os dedos dobrados para apanhá-la, mas a bola escapou, quicando no chão ao seu lado, e acabou rolando para dentro da água.

Assustada, a filha do rei tentou avistar a bola, mas o poço era tão fundo que não se via o chão. Então ela começou a chorar muito e a se lamentar: “Ai, ai, eu daria tudo para ter minha bola de volta: minhas roupas, minhas pedras preciosas, minhas pérolas e tudo que eu possuísse no mundo”. Enquanto ela se queixava, um sapo espichou a cabeça para fora da água e disse: “Filha do rei, por que você se lamenta tanto?” “Ai, seu sapo asqueroso, como você poderia me ajudar! Minha bola de ouro caiu no fundo do poço”, disse ela. O sapo então disse: “Suas pérolas, suas pedras preciosas e seus trajes não me interessam, mas, se você me aceitar como seu companheiro e permitir que eu me sente ao seu lado e coma de seu pratinho dourado, que eu durma na sua caminha e me tratar bem e me amar, trarei sua bola de volta”. Mas que conversa é essa, a desse sapo imbecil?, pensou a filha do rei, ele não pode sair de dentro da água, mas talvez ele possa buscar minha bola, então simplesmente vou dizer sim. E assim o fez: “Por mim, primeiro busque minha bola de ouro, e tudo está prometido”. O sapo afundou a cabeça na água, mergulhou fundo e, sem demora, voltou à superfície com a bola de ouro na boca, arremessando-a para fora do poço. Ao rever sua bola de ouro, a princesa foi correndo pegá-la, e estava tão feliz em tê-la novamente em suas mãos que não pensou em mais nada a não ser em voltar para casa. O sapo gritou, chamando: “Espere, filha do rei, me leve com você, como prometeu”. Mas ela não lhe deu ouvidos.
No dia seguinte, a princesa estava sentada à mesa quando ouviu alguma coisa subindo a escadaria de mármore, splesh, splash! splesh, splash! Logo em seguida, ouviu baterem na porta e alguém chamando: “Filha mais nova do rei, abra a porta!” Ela foi correndo abrir a porta e lá estava o sapo, de quem já tinha se esquecido. Muito assustada, ela bateu a porta afobada e voltou a sentar-se à mesa. O rei, porém, percebeu seu coração disparado e perguntou: “Você está com medo de quê?” “Tem um sapo asqueroso ali fora”, disse ela, “ele tirou minha bola de ouro do poço e em troca eu prometi ser sua companheira, mas eu jamais imaginei que ele pudesse sair da água, só que agora ele está ali na porta e quer entrar.” Em seguida, o sapo bateu na porta uma segunda vez e chamou:

“Filha mais nova do rei,
abra a porta,
não se lembra do que disse
ontem
à beira do poço de água fria?
Filha mais nova do rei,
abra a porta.”

O rei então disse: “O que você prometeu, tem de cumprir. Vá abrir a porta para o sapo”. Ela obedeceu e o sapo entrou aos pulos, seguindo seus passos até a cadeira. Quando ela voltou a se sentar, ele pediu: “Agora me coloque em uma cadeira ao seu lado”. A filha do rei não queria, mas o rei obrigou que ela o fizesse. Quando estava sentado, o sapo disse: “Agora me passe o seu prato dourado, quero comer junto com você”. Também isso ela teve de fazer. Depois de satisfeito, o sapo disse: “Agora estou cansado e quero dormir, me leve ao seu aposento, prepare sua caminha para que possamos deitar”. Ao ouvir tais palavras, a filha do rei ficou apavorada, pois tinha nojo do sapo frio, não tinha coragem de tocá-lo, e agora ele queria dormir na cama dela. Ela começou a chorar e se recusou. Furioso, o rei ordenou que ela cumprisse o que havia prometido e não o desonrasse. Não tinha jeito, ela tinha de satisfazer a vontade do pai, mas sentia imensa raiva em seu coração. Pegando o sapo com dois dedos, levou-o ao seu quarto, deitou-se na cama e, em vez de colocá-lo ao lado dela, atirou-o contra a parede, ploft. “Pronto, agora você vai me deixar em paz, sapo asqueroso!”
Mas o sapo não morreu e antes de cair se transformou num belo e jovem príncipe. Este, sim, era seu querido companheiro e, cumprindo a promessa, os dois adormeceram felizes lado a lado. Na manhã seguinte, uma esplêndida carruagem com oito cavalos encilhados, espanada e brilhando feito ouro aguardava do lado de fora, conduzida por Henrique, o criado do príncipe, que, de tanto sofrimento por ver seu príncipe transformado em sapo, amarrara três correntes de ferro no peito para que seu coração não explodisse de tristeza. O príncipe embarcou com a filha do rei na carruagem e o fiel criado conduziu-os para casa. Depois de terem percorrido um trecho, o príncipe ouviu um tremendo estrondo atrás de si e, ao voltar-se, gritou: “Henrique, a carruagem está arrebentando!”

“Não, senhor, não é a carruagem, não.
São as correntes do meu coração,
que ficou sofrendo
por vê-lo preso ao poço
transformado em sapo.”

O príncipe ouviu o estrondo uma vez mais e outra ainda, e pensou que a carruagem estivesse se partindo, mas eram apenas as correntes do coração do fiel Henrique se soltando porque seu patrão agora estava salvo e feliz.

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Fonte:  http://bravonline.abril.com.br/materia/infancia-apimentada#image=182-li-grimm-j-borges-4

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