quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Coral Infanto-Juvenil do Palácio das Artes - Có,Có,Có!!!


mensagem de fim de ano

Foi mais ou menos assim que esse blog começou, no fim de 2011, agora já tem um ano, com altos e baixos, uma descontinua postação, mas com seus momentos de alegria.
Conseguimos aumentar nosso público brasileiro, que se superou os russos, que eram no começo os principais leitores(valeu nação russa).
O Nagarrafa deixou de ser um espaço no qual eu publicava minha produção, para ser um local na qual eu compartilhava minhas referências. Nos últimos meses a periodicidade de postagens ficou defasada, entretanto no foi por descaso de seu autor, mas porque eu tenho estado tolhido de meu acesso a internet o que me dificultou até mesmo a leitura de emails.
Enfim como diria os maias, 2013 abre uma nova era de nossa existência e novas possibilidades deverão ser experimentadas.
Que veia o fim do mundo, o fim do ano, o fim de um ciclo, e que 2013 seja um pouco mais inusitado.

abraços
nagarrafa

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Reinações de Narizinha - Monteiro Lobato


No outro dia a menina levantou-se muito cedo para levar a boneca ao
consultório do doutor Caramujo. Encontrou-o com cara de quem havia comido um
urutu recheado de escorpiões.
— Que há, doutor?
— Há que encontrei o meu depósito de pílulas saqueado. Furtaram-me
todas...
— Que maçada! — exclamou a menina aborrecidíssima. – Mas não pode
fabricar outras? Se quiser, ajudo a enrolar.
— Impossível. Já morreu o besouro boticário que fazia as pílulas, sem haver
revelado o segredo a ninguém. A mim só me restava um cento, das mil que comprei
dos herdeiros. O miserável ladrão só deixou uma — e imprópria para o caso porque
não é pílula falante.
— E agora?
— Agora, só fazendo uma certa operação. Abro a garganta da boneca muda e
ponho dentro uma falinha, respondeu o doutor, pegando na sua faca de ponta para
amolar. Já providenciei tudo.
Nesse momento ouviu-se grande barulheira no corredor.
— Que será? — indagou a menina surpresa.
— É o papagaio que vem vindo — declarou o doutor.
— Que papagaio, homem de Deus? Que vem fazer aqui esse papagaio?
Mestre Caramujo explicou que como não houvesse encontrado suas pílulas
mandara pegar um papagaio muito falador que havia no reino. Tinha de matá-lo para
extrair a falinha que ia pôr dentro da boneca.
Narizinho, que não admitia que se matasse nem formiga, revoltou-se contra a
barbaridade. — Então não quero! Prefiro que Emília fique muda toda a vida a sacrificar
uma pobre ave que não tem culpa de coisa nenhuma.
Nem bem acabou de falar, e os ajudantes do doutor, uns caranguejos muito
antipáticos, surgiram à porta, arrastando um pobre papagaio de bico amarrado. Bem
que resistia ele, mas os caranguejos podiam mais e eram murros e mais murros.
Furiosa com a estupidez, Narizinho avançou de sopapos e pontapés contra os
brutos.
— Não quero! Não admito que judiem dele! – berrou vermelhinha de cólera,
desamarrando o bico do papagaio e jogando as cordas no nariz dos caranguejos.
O doutor Caramujo desapontou, porque sem pílulas nem papagaios era
impossível consertar a boneca. E deu  ordem para que trouxessem o segundo
paciente.
Apareceu então o sapo num carrinho. Teve de vir sobre rodas por causa do
estufamento da barriga; parece que as pedras haviam crescido de volume dentro.
Como ainda estivesse vestido com a saia e a touca da  Emília, Narizinho viu-se
obrigada a tapar a boca para não rir-se em momento tão impróprio.
O grande cirurgião abriu com a faca a barriga do sapo e tirou com a pinça de
caranguejo a primeira pedra. Ao vê-la à luz do sol sua cara abriu-se num sorriso
caramujal.
— Não é pedra, não! — exclamou contentíssimo. — É uma das minhas
queridas pílulas! Mas como teria ela ido parar na barriga deste sapo?...
Enfiou de novo a pinça e tirou nova pedra. Era outra pílula! E assim foi indo
até tirar lá de dentro noventa e nove pílulas.
A alegria do doutor foi  imensa. Como não soubesse curar sem aquelas
pílulas, andava com medo de ser demitido de médico da corte.
— Podemos agora curar a senhora Emília — declarou ele depois de costurar a
barriga do sapo.
Veio a boneca. O doutor escolheu uma pílula falante e pôs-lhe na boca.
— Engula duma vez! — disse Narizinho, ensinando à Emília como se engole
pílula. E não faça tanta careta que arrebenta o outro olho.
Emília engoliu a pílula, muito bem engolida, e começou a falar no mesmo
instante. A primeira coisa que disse foi: “Estou com um horrível gosto de sapo na
boca!” E falou, falou, falou mais de uma hora sem parar. Falou tanto que Narizinho,
atordoada, disse ao doutor que era melhor fazê-la vomitar aquela pílula e engolir
outra mais fraca.
— Não é preciso — explicou o grande médico. — Ela que fale até cansar.
Depois de algumas horas  de  falação,  sossega  e  fica  como  toda  gente.  Isto  é  “fala
recolhida”, que tem de ser botada para fora.
E assim foi. Emília falou três horas sem tomar fôlego. Por fim calou-se.
— Ora graças! — exclamou a menina. — Podemos agora  conversar como
gente e saber quem foi o bandido que assaltou você na gruta. Conte o caso
direitinho.
Emília empertigou-se toda e começou a dizer na sua falinha fina de boneca de
pano: — Pois foi aquela diaba da dona Carocha. A coroca apareceu na gruta das
cascas...
— Que cascas, Emília? Você parece que ainda não está regulando...
— Cascas, sim — repetiu a boneca teimosamente.
— Dessas cascas de bichos moles que você tanto admira e chama conchas. A
coroca apareceu e começou a procurar aquele boneco...
— Que boneco, Emília?
— O tal Polegada que furava bolos e você escondeu numa casca bem lá no
fundo. Começou a procurar e foi sacudindo as cascas uma por uma para ver qual
tinha boneco dentro. E tanto procurou que achou. E agarrou na casca e foi saindo
com ela debaixo do cobertor...
— Da mantilha, Emília!
— Do COBERTOR.
— Mantilha, boba!
— COBERTOR. Foi saindo com ela debaixo do COBERTOR e eu vi e pulei
para cima dela. Mas a coroca me unhou a cara e me bateu com a casca na cabeça,
com tanta força que dormi. Só acordei quando o doutor Cara de Coruja...
— Doutor Caramujo, Emília!
— Doutor CARA DE CORUJA. Só acordei quando  o doutor CARA DE
CORUJÍSSIMA me pregou um liscabão.
— Beliscão — emendou Narizinho pela  última vez, enfiando a boneca no
bolso. Viu que a fala da Emília ainda não estava bem ajustada, coisa que só o tempo
poderia conseguir. Viu também que era de gênio teimoso e asneirenta por natureza,
pensando a respeito de tudo de um modo especial todo seu.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Chapeuzinho Amarelo

Clássico do Chico. Como admiro muito cidadão solto essa pra o pessoal se alegrar.



Era Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo,
aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada
nem descia.
Não estava resfriada
mas tossia.
Ouvia conto de fada
e estremecia.
Não brincava mais de nada,
nem de amarelinha.


Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol
porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada,
deitada, mas sem dormir,
com medo de pesadelo.


Era a chapeuzinho Amarelo.


E de todos os medos que tinha
o medo mais que medonho
era o medo do tal do LOBO.
Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheia de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.


Mesmo assim a Chapeuzinho
tinha cada vez mais medo
do medo do medo do medo
de um dia encontrar o LOBO.
Um LOBO que não existia.


E Chapeuzinho Amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz
de comer duas avós,
um caçador,
rei, princesa.
sete panelas de arroz
e um chapéu
de sobremesa.


Mas o engraçado é que,
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo,
o medo do medo do medo
de um dia encontrar um LOBO.
Foi passando aquele medo
do medo que tinha do LOBO.
Foi ficando só com um pouco
de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo
e ela ficou só com o lobo.


lobo ficou chateado
de ver aquela menina
olhando para cara dele,
só que sem medo dele.
Ficou mesmo envergonhado,
triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirando o medo,
é um arremedo de lobo.
É feito um lobo sem pelo.
Lobo pelado.


O lobo ficou chateado.


Ele gritou: SOU UM LOBO!

Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: sou um LOBO!
Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou:  EU SOU UM LOBO!!!

Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar
de outra coisa.
Ele então gritou bem forte
aquele seu nome de LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando
e a menina saber
com quem não estava falando:

LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO

AÍ,

Chapeuzinho encheu e disse:
"Para assim! Agora! Já!
Do jeito que você tá"
E o lobo parado assim
do jeito que o lobo estava
já não era mais um LO-BO.

Era um BO-LO.

Um belo bolo de lobo fofo,
tremendo que nem pudim,
com medo da Chapeuzim.
Com medo de ser comido
com vela e tudo, inteirim.


LOBOLOBO


Chapeuzinho não comeu
aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu
de chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo,
menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva
nem foge de carrapato.


Cai, levanta, se machuca,
vai à praia, entra no mato,
trepa em árvore, rouba fruta,
depois joga amarelinha
com o primo da vizinha,
com a filha do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.


Mesmo quando está sozinha,
inventa
uma brincadeira.
E transforma
em companheiro
cada medo que ela tinha:
o raio virou orrái,
barata é tabará,
a bruxa virou xabru
e o diabo é bodiá.


FIM

sábado, 17 de novembro de 2012

Tava tudo escrito


Descobri por acaso o texto "Para a Questão da Habitação" do Engels, lendo o último livro do Harvey lançado aqui no Brasil.
O texto é bem preciso. Triste é ver que as coisas não mudaram nada.


Na realidade, a burguesia tem apenas um método para resolver à sua maneira a questão da habitação — isto é, resolvê-la de tal forma que a solução produza a questão sempre de novo. Este método chama-se «Haussmann».
Por «Haussmann» entendo não apenas a maneira especificamente bonapartista do Haussmann parisiense de abrir ruas compridas, direitas e largas pelo meio dos apertados bairros operários e de guarnecê-las de ambos os lados com grandes edifícios de luxo, com o que se pretendia não só atingir a finalidade estratégica de dificultar a luta nas barricadas mas também formar um proletariado da construção civil especificamente bonapartista e dependente do governo e transformar a cidade numa pura cidade de luxo. Por «Haussmann» entendo também a prática generalizada de abrir brechas nos bairros operários, especialmente nos de localização central nas nossas grandes cidades, quer essa prática seja seguida por considerações de saúde pública e de embelezamento ou devido à procura de grandes áreas comerciais centralmente localizadas ou por necessidades do trânsito, tais como vias-férreas, ruas, etc. O resultado é em toda a parte o mesmo, por mais diverso que seja o pretexto: as vielas e becos mais escandalosos desaparecem ante grande autoglorificação da burguesia por esse êxito imediato mas... ressuscitam logo de novo em qualquer lugar e frequentemente na vizinhança imediata.
Na Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra fiz uma descrição de Manchester, tal como era em 1843 e 1844. Desde então, alguns dos piores bairros aí descritos foram atravessados, arejados e melhorados, outros totalmente eliminados devido às linhas de caminho-de-ferro que passam pelo meio da cidade, à abertura de novas ruas, à construção de grandes edifícios públicos e privados; no entanto, muitos desses bairros — apesar de a inspecção sanitária se ter tornado desde então mais rigorosa — encontram-se ainda na mesma situação ou mesmo pior, no que respeita ao estado da construção. Em contrapartida, porém, graças à enorme expansão da cidade, cuja população aumentou desde então em mais de metade, bairros que nessa altura eram ainda arejados e limpos, estão agora tão cheios de construções, tão sujos e tão superpovoados como antigamente as partes mais mal afamadas da cidade. Eis apenas um exemplo: no meu livro descrevi na página 80 e seguintes um grupo de casas situadas na parte baixa do vale do rio Medlock e que, conhecidas pelo nome de Pequena Irlanda (Little Ireland), formavam há anos a vergonha de Manchester. A Pequena Irlanda desapareceu há muito tempo; em seu lugar ergue-se hoje, assente em altos pilares, uma estação de caminho-de-ferro; a burguesia vangloriava-se da feliz e definitiva eliminação da Pequena Irlanda como um grande triunfo. Acontece que no Verão passado houve uma grande inundação, semelhante às inundações que crescem de ano para ano e que, por causas facilmente explicáveis, são provocadas nas nossas grandes cidades pelos rios represados. Verifica-se pois que a Pequena Irlanda não foi de modo nenhum eliminada, mas apenas transferida da parte sul da Oxford Road para a parte norte, e ainda continua a florescer. (...)
Este é um exemplo marcante de como a burguesia resolve na prática a questão da habitação. Os focos de epidemias, as mais infames cavernas e buracos em que o modo de produção capitalista encerra noite após noite os nossos operários não são eliminados mas apenas... mudados de lugar! A mesma necessidade económica que os tinha provocado no primeiro sítio produ-los também no segundo. E, enquanto o modo de produção capitalista existir, será disparate pretender resolver isoladamente a questão da habitação ou qualquer outra questão social que diga respeito à sorte dos operários. A solução reside, sim, na abolição do modo de produção capitalista, na apropriação pela classe operária de todos os meios de vida e de trabalho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

As fantásticas Animegaos

Há um certo tempo vi uma reportagem na Veja sobre as diversas tribos que existem no Japão, o destaque na época eram as Giarus (corruptela para Girls), se tratavam de garotsa que pintavam o cabelo de loiro, se brozeavam artificalmente até torrar, e usavam roupas com estampas florais, quase levanda Malibu para o Oriente. Na época me choquei com o grau de intervenção na aparência daquelas moças. Entretanto nada se compara às Animegaos, aqui o grau de artficialismo vai longe, nada mais nipônico. Não adiantarei o artigo, aqui só reproduzo a primeira parte, o interessante é ver as entrevistas disponiveis no link: http://www.vice.com/pt_br/read/garotas-que-sao-garotos-que-gostam-de-garotos-vestidos-de-garotas

Se você já passou por Akihabara — a área em Chiyoda , Tóquio, onde eletrônicos e itens de anime são parte da paisagem — é provável que tenha encontrado moças com vestidos fofinhos e cabeças de bonecas de mangá, ou “Animegaos” como se auto-intitulam. O look delas é inspirado nas Magical Girls do anime, que são forçadas a combater o mal e proteger a Terra ao estilo da Sailor Moon. Além das máscaras feitas de argila e fibra de vidro, a indumentária obrigatória consiste em roupas cor da pele de corpo inteiro e vestidos superbem costurados e próprios das personagens. Importante também mencionar que 90% destas moças são, na realidade, rapazes magricelos entre 20 e 30 anos que gastam até R$ 3.700 em roupas para satisfazerem suas fantasias.
Fomos ao Wonder Festival, o maior evento do mundo para garage kits — esculturas de personagens de anime e de jogos —, numa tentativa de compreender esta moda cada vez mais popular na cena cosplay japonesa. O lugar estava repleto de Animegaos, todas com um estilo único, e os otakus amontoavam-se para tirar uma fotografia e dizer “Uoooooaaaaah” cada vez que uma Animegao fazia uma pose especial. Foi esquisito pensar que estavam todos tão excitados com aquilo que, na realidade, eram caras, mas depois descobrimos que muitos otakus têm tanto nojo de mulheres reais que só estas “minas” 2D — semelhantes àquelas com que interagem nos videogames — lhes dão tesão. Esta preferência sexual é, de fato, tão comum que algumas Animegaos transformaram o seu hobbie de travestismo Magical Girl num negócio florescente, cobrando aos otakus uns meros ¥10,000 (cerca de R$ 200) por uma sessão de fotos privada de uma hora, com custos extra por cada mudança de roupa. Esta tarifa ainda pode aumentar se o otaku trouxer as suas próprias roupas para ela vestir. Tem até pornografia Animegao.
Uma das regras fundamentais das Animegao é que não lhes é permitido falar — provavelmente porque assim ficaríamos sabendo que são na realidade homens, o que arruinaria a fantasia —, por isso só conseguimos comunicar com elas através de notas e mensagens de celular. Por sorte, conhecemos também o Sr. Kodama, uma Animegao que tinha dado folga aos seus trajes para vender as máscaras Animegao que fabrica meticulosamente.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Kama Sutra

 O Kama Sutra, ao contrário do que se divulga por aí, não é exatamente um livro de safadeza, na verdade o é, mas com um objetivo eleevado. 
Segundo uma das correntes do hinduísmo, para se alcançar o darma, ultima logro desta vida terrena, se tem que esgotar toda as possibilidades da carne, diferente do catolicismo por exemplo, que pretende a repressão dos instintos.
Kama Sutra é um manual de sexo para explora-lo até o gozo limite, onde as necessidades do corpo ganhariam outra dimensão. Acho que já postei texto sobre a relação entre autonomia social e autonomia sexual, caso não, se explica que a represão sexual é quase a repressão ao próprio ser.
Enfim, procurei alguma boa versão do Kama Sutra em portugues, mas não encontrei. Então vou botar trecho extraído da wikipedi mesmo.


Kamasutram, geralmente conhecido no mundo ocidental como Kama Sutra, é um antigo texto indiano sobre o comportamento sexual humano, amplamente considerado o trabalho definitivo sobre amor na literatura sânscrita. O texto foi escrito por Vatsyayana, como um breve resumo dos vários trabalhos anteriores que pertencia a uma tradição conhecida genericamente como Kama Shatra.

“Ao contrário do que muitos pensam, o Kama Sutra não é um manual de sexo, nem um trabalho sagrado ou religioso. Ele também não é, certamente, um texto tântrico. Na abertura de um debate sobre os três objectivos da antiga vida hindu - Darma, Artha e Kamadeva - a finalidade do Vatsyayana é estabelecer kama, ou gozo dos sentidos, no contexto. Assim, Darma (ou vida virtuosa) é o maior objetivo, Artha, o acúmulo de riqueza é a próxima, e Kama é o menor dos três.” — Indra Sinha.

Kama é a literatura do desejo. Já o Sutra é o discurso de uma série de aforismos. Sutra foi um termo padrão para um texto técnico, assim como o Yôga Sútra de Pátañjali. O texto foi escrito originalmente como Vatsyayana Kamasutram (ou "Aforismos sobre o amor, de Vatsyayana"). A tradição diz que o autor foi um estudante celibatário que viveu em Pataliputra, um importante centro de aprendizagem. Estima-se que ele tenha nascido no início do século IV. Se isso for correto Vatsyayana viveu durante o ápice da Dinastia Gupta, um período conhecido pelas grandes contribuições para a literatura Sânscrita e para cultura Védica.

  • "Foi dito por alguém que não há ordem ou momento exatos entre o abraço, o beijo e as pressões ou arranhões com as unhas ou dedos, mas que todas essas coisas devem ser feitas, de um modo geral, antes que a união sexual se concretize, ao passo que as pancadas e a emissão dos vários sons devem ocorrer durante a união. Vatsyayana, entretanto, pensa que qualquer coisa pode ocorrer em qualquer momento, pois o amor não se incomoda com o tempo ou ordem."
  • "Quando o amor se intensifica, entram em jogo as pressões ou arranhões no corpo com as unhas. As pressões com as unhas, entretanto, não são comuns senão entre aqueles que estejam intensamente apaixonados, ou seja, cheios de paixão. São empregadas, juntamente com a mordida, por aqueles para quem tal prática é agradável."


sábado, 6 de outubro de 2012

Henry Miller - Trópico de Cancer



O texto de Henry Miller é muito parecido com o de Juan Pedro, ou melhor o contrário pois este último ainda esta vivo e comecou a escrever bem depois dos devaneios de Trópico de Cancer. De qualquer forma, ambos empunham suas penas afiadas, decretando o fim de uma vida que não oferece muito além da conformação. 
A cidade de Paris é o cenário principal do livro (ou será um personagem). Na Cidade Luz que o narrador meio real meio ficcional vai contando suas desventura em meio a miséria e o lux, viver com a barriga vazia em meio ao Boulevair. Entre uma trepada e outra, entre uma epifania e outra, ele vai desgastando uma saga moderna que dá tão rapido quanto tira.


Van Norden aprovecha la ocasión para exponerles su concepción delarte, concepción, no hace falta decirlo, creada espontáneamente para que se ajuste al caso.Ha llegado a ser tan experto para representar ese papel, que la transición de los cantos deEzra Pound a la cama se produce tan simple y naturalmente como una modulación de unatonalidad a otra; de hecho, si no se produjera, habría una discordancia, que es lo que ocurrealguna vez que otra, cuando comete un error con respecto a esas papanatas a las que calificade «incautas». Naturalmente, habida cuenta de su forma de ser, cuando se refiere a esosfatales errores de juicio, lo hace de mala gana. Pero cuando se decide efectivamente aconfesar un error de ese tipo, lo hace con absoluta franqueza; de hecho, parece obtener unplacer perverso en explayarse a propósito de su ineptitud. Hay una mujer, por ejemplo, a laque ha estado intentando conseguir desde hace ya diez años: primero en América y porúltimo aquí en París. Es la única persona del sexo opuesto con la que tiene una relacióncordial y amistosa. No sólo parecen gustarse, sino también entenderse. Al principio, mepareció que, si pudiera conseguir realmente a esa mujer, quizá se resolviese su problema.Existían todos los elementos para una unión feliz... excepto el fundamental. Bessie era casitan insólita en su forma de ser como él. Daba tan poca importancia al hecho de entregarse aun hombre como al postre que sigue a la comida. Generalmente, elegía el objeto de supreferencia y ella misma hacía la proposición. No era fea, pero tampoco podía decirse quefuera guapa. Tenía un cuerpo bonito, eso era lo principal... y le gustaba el asunto, como sesuele decir.Eran tan amigos, aquellos dos, que a veces, para satisfacer su curiosidad (y también conla vana esperanza de estimularla con su destreza), Van Norden la escondía en su armariodurante una de sus sesiones. Cuando había acabado, Bessie salía de su escondite ycomentaba la cuestión como si tal cosa, es decir, con total indiferencia por todo lo que nofuera «técnica». Técnica era uno de los términos favoritos de ella, por lo menos en lasconversaciones que tuve el privilegio de disfrutar. «¿Qué defecto encuentras en mitécnica?», decía él. Y Bessie le respondía: «Eres demasiado tosco. Si esperas conseguirmealguna vez, tienes que volverte más sutil.»Como digo, había un entendimiento tan perfecto entre ellos, que a veces, cuando iba aver a Van Norden a la una y media, encontraba a Bessie sentada en la cama, con las mantasapartadas hacia atrás y Van Norden invitándola a que le acariciara el pene... «Sólo unascuantas caricias suaves —decía él— para que tenga valor para levantarme.» O bien lainstaba a que se lo chupara, o, si no lo conseguía, se lo cogía él mismo y se lo sacudía comosi fuese una campanilla, mientras se tronchaban de risa los dos. «Nunca conseguiré a estamala puta», decía. «No me tiene respeto. Eso es lo que saco con hacerle confidencias.» Ydespués, de improviso, podía ser que añadiera: «¿Qué te parece la rubia que te enseñéayer?», dirigiéndose a Bessie, desde luego. Y Bessie se burlaba de él, diciendo que no teníagusto: «¡Oh, no me vengas con ese rollo!», decía él. Y después, de chunga, quizá pormilésima vez, porque ya se había convertido en una broma constante entre ellos: «Oye,Bessie, ¿nos echamos un polvo rápido? Sólo un polvete... ¿no?» Y, después de que elintento hubiera fracasado como de costumbre, añadía en el mismo tono: «Bueno, ¿y a él?¿Por qué no te lo tiras?»Lo que pasaba con Bessie era, sencillamente, que no podía, o no quería, considerarse unagachí para un polvo. Hablaba de pasión, como si se tratara de una palabra recién creada. Seapasionaba por las cosas, incluso por algo tan nimio como un polvo. Tenía que poner elalma en lo que hacía.—A veces yo también me apasiono —decía Van Norden.—¿Tú? —decía Bessie—. Tú no eres más que un sátiro agotado. Tú no sabes lo quesignifica la pasión. Cuando tienes una erección, crees estar apasionado.
—Bueno, quizá no sea pasión..., pero no puedes apasionarte si no tienes una erección, ¿esverdad o no?

Maria Bethânia - Olhos nos olhos