quinta-feira, 11 de abril de 2013

Brinquedo, socialização e cultura



Neste processo de evolução, de mudanças sociais, culturais, econômicas e políticas, cabe à indústria atender e gerar demandas  de consumo. As crianças são um público especial: recebem com enorme alegria os brinquedos confeccionados para elas e os exigem em quantidade. Os brinquedos, inicialmente  carregados de afeto e significado advindos das mãos de quem os confeccionava (hábeis artesãos, muitas vezes pais ou avós da criança que receberia o brinquedo), passam a atender às necessidades do mercado (Oliveira, 1984). São produzidos em série, com materiais menos dispendiosos, em menor tempo e não devem durar muito. Nas palavras de Rosemberg (1989) “o brinquedo, objeto e instrumento de brincar eleito livremente pela criança em suas brincadeiras, passou, ao longo dos séculos, por uma institucionalização onde predominantemente o adulto, ou melhor, os fabricantes de brinquedos passaram a determinar o que é e o que não é brinquedo, o que confeccionar e comercializar” (p.15). E é esta realidade, de produção e consumo, que está presente até hoje no contexto de relação entre a infância e o brinquedo. Oliveira (1984), discutindo a abrangência deste processo de “mercantilização” do brinquedo, assinala que a indústria não deixou de perceber as diferenças de poder aquisitivo que permeiam as diversas classes sociais. Assim, criou os chamados “brinquedos populares”, que, devido ao acabamentoprimário das peças, têm o custo reduzido. Contudo, estes são brinquedos que, geralmente, têm baixa qualidade, uma aparência menos atrativa e, portanto, não são tão desejados pelas crianças.

Quanto ao processo de socialização, ao nascer, a criança é automaticamente inserida em um contexto, e irá participar de ambientes permeados por valores e crenças definidos, onde espera-se que ela seja capaz de desempenhar papéis. Durante seu processo de socialização, cabe aos seus cuidadores inseri-la neste mundo de códigos e significados, ensinando e sinalizando comportamentos e a titudes que estejam de acordo com o que se espera e deseja dela (Biasoli-Alves, 1992). Assim, a criança, ao se socializar “se apropriaria de sua cultura e passaria a ter condições de compartilhar o que é comum ao grupo em que se inseriu, e estabelecer um sistema de trocas, comunicando-se com os demais membros da sociedade, através de um contínuo de interações” (Alves, 1995, p.4).

Durante este processo, o brinquedo tem um papel fundamental. É através de jogos e brincadeiras (realizadas normalmente com um objeto) que a criança trabalha sua relação com o mundo, divide espaços e experiências co m outras pessoas, vivencia as mais variadas situações. Brincando a criança é agente, lidando com objetos carregados de mensagens que são continuamente transformadas. Segundo Brougère (1995, p.9), “a criança dispõe de um acervo de significados. Ela deve interpretá-los : a criança deve conferir significados ao brinquedo, durante a sua brincadeira. Neste  sentido, o brinquedo não condiciona a ação da criança: ele lhe confere um suporte determinado, mas que ganhará novos significados através da brincadeira”.

Pensando que este brinquedo foi confeccionado por um adulto (pessoa em desenvolvimento que já passou por várias etapas de socialização) e que chega até a criança também através de um adulto, pode-se concluir que este é um objeto que contém em si umafunção e um significado determinados. Há nele uma mensagem para a criança, onde valorese expectativas estão embutidos. Na atualidade, os meios de comunicação como a TV e revistas são potentes aliados na definição dos objetos a serem produzidos, na mensagem que devem conter e no próprio estímulo ao consumo. Há, por exemplo, bonecas que representam apresentadoras de programas infantis, as que representam um determinado
estilo de vida, classe social e padrão de beleza. Há os chamados “heróis da TV”, miniaturas de super-heróis que vêm com suas armas e truques. Há os jogos que estimulam o exercício de habilidades específicas, e são recomendados por profissionais da área da saúde, apenas para citar alguns exemplos (Alves, 1995; Oliveira, 1984; Rosemberg, 1989). Mas é na brincadeira, na forma como a criança se utiliza deste objeto que reside seu real significado.

Retirado de ALVES, PAOLA BIASOLI . " O Brinquedo e as Atividades Cotidianas de Crianças em Situação de Rua".  dissertação de mestrado. 2008. Porto Alegre
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1890/000222267.pdf?sequence=1


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