quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

conto 6

Foi naquela tarde, quando a Tia Laura chegou em casa.
_Quem fez essa bagunça no meu quarto?
_Foi a ratazana voadoura, Tia Laura.
_Martinha, você sabe que a ratazana voadoura não existe. Quem fez essa bagunça no meu quarto?
_Existe sim Tia Laura. Eu vi. Ela entrou pela janela. Abriu essa buraco no armário, e comeu toda as caixas de chocolate.
_Martinha, a ratazana voadoura não existe. Mas se você não quer dizer quem fez essa bagunça e comeu o chocolate suíço do Loló, tudo bem. Não tem problema nenhum.
Problema nenhum uma pinoia. A janta foi sopa de chuchu sem sobremesa. Mas Martinha nem ligou.

Os adultos diziam.
_Para de comer bala que a ratazana vai vir chupar seus dentes.
_Para de jogar videogame, senão a ratazana vai arrancar seus dedos.
_Para de falar no celular senão a ratazaná vai rasgar sua orelha.
As crianças todas morriam de medo. Martinha não. Martinha queria comer todas os chicletes, ter bolhas nos dedos de jogar videogame, calos na orelha, só pra ver o roedor alado.

As crianças se escondiam de Martinha, que não se importava. Se alguma criança se aproximava para importuná-la. Martinha dizia:

Voa voa ratazana voadoura.
E apareça bem aqui agoura

Voa voa ratazana voadoura.
E apareça bem aqui agoura

Voa voa ratazana voadoura.
E apareça bem ….

Antes que Martinha completasse o terceiro verso, a outra criança já estava longe, e Martinha continuava em paz.
Só que Martinha sabia que não adiantava chamar, a Ratazana nunca mais apareceria.

Foi naquela tarde na casa da tia Laura que Martinha viu a Ratazana. Depois que ela saiu pra comprar mais cocola para alimentar seu lianlazian que já tinha comido meio balde de chocolate belga, e ficara cheio de energia para latir e perseguir Martinha que se defendia com uma vassoura. Naquela tarde, de repente, um guinchado de horror pode ser escutado. O lianlazian fugiu rapidamente, antes que duas lindas asas brancas invadissem o quarto da tia Laura e devorassem todo o chocolate que sobrou, e ainda destruíssem todo o armário famintas por mais doce.

Martinha tentou aprisionar o animal, mas armada somente com a vassoura só conseguiu assustar o bicho que destruiu todo o quarto e fugiu.

Martinha ficou decepcionada e maravilhada com a criatura que voava pela janela. Nem ligou para sopa de chuchu sem sobremesa.

Foi desde então que Martinha ficou decidida a rever a ratazana.

Mas parecia inútil, por mais Martinha comesse chocolate, por mais que chamasse, a bicha não aparecia. A garota entretanto sabia onde procurar. Foi quando soube que ficaria de novo na casa da tia Laura que armou seu plano. Esperou que a tia Laura, saísse para fazer compras, depois abriu os chocolates comprados para todo o mês. Colocou todas na sala.
O cachorro maldito, correu latindo atrás de Martinha, mas quando viu aquela montanha de chocolate resolver se afogar nela.

Martinha começou:

_Voa Voa ratazana....

_Voa Voa ratazana....

_Voa Voa ratazana....

E de repente asas enormes encobriram as luzes do quarto e um só ZAP, arrancaram a cabeça do lianlazian com chocolate e tudo.
O animal começou a comer todo aquelas guloseimas e nem percebeu que Martinha se aproximava com um cesto de lixo. Martinha caminhava em silêncio, mas por acaso do destino, suspirou. O animal escutou e procurou fugir, mas Martinha já havia fechado todas as portas e janelas. A ratazana voou loucamente pela casa, destruindo vasos, quadros, móveis Martinha corria atrás.

A noite quando tia Laura chega, se depara com uma casa toda destruída, chocolate esparramado por todos os lados, e um cachorro sem cabeça.

Tia Laura grita:
_ MARTINHA

Martinha não foi encontrada nem a ratazana, ao invés disso apenas uma janela abrindo espaço para imensidão azul do dia.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

conto 5

Mãe e filho viviam brigando. Brigavam por tudo, pelas roupas surradas, pelas bolas chutadas, pela falta de higiene. Um dia o filho disse que faria uma tatuagem. A mãe proibiu fortemente. Os dois brigaram outra vez. Brigaram tanto, que o menino ficou quieto e foi para seu quarto. Ficou quieto vários dias, tao quieto que um dia a mãe resolveu  ver o menino tomando banho.
Surpresa! Havia um desenho de um cachorro nas costas do filho.
A mae entrou no banheiro brigando, o menino foi respondendo. Os dois brigaram tanto que de repente o menino latiu. A mãe retrucou, ai o menino latiu de novo, e não conseguiu mais falar. A mãe sacudiu o menino, como se o sacude fizesse sair pra fora a capacidade de falar. E não é que saiu uma voz, mas não era a voz do menino, era uma voz que emanava. Uma voz possante. Era o cachorro da tatuagem que falava.
_Minha senhora, não adianta sacudir. Só deixara seu filho tonto.
_Meu deus, você fala!
_Sim falo, agora falo melhor que seu filho, que agora só lati.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

conto 5

Antes só havia o silêncio, um silêncio total e absoluto, foi quando se iniciou a Palavra. Ela fazia um esforço para nascer naquele mar de calma. Fazia muito esforço, muito esforço. Até que, bumba, Nasceu.

Era M, a Palavra.

O silencio não despareceu. A Palavra e o Silencio eram a mesma coisa e ecoavam por ai como irmãos.

M era a fonte de todas as outras palavras, quando alguém queria dizer algo, ao contrário do que se pode imaginar, dizia M. Todas as palavras a serem ditas eram criadas a partir de M, em um tempo onde as coisas sussurravam o próprio nome.

Por que hoje em dia as pessoas não dizem mais M?
Eu não sei direito, mas acredito que as pessoas não dizem mais M  por conta das cadeiras. É verdade: as cadeiras. Talvez assim como as cadeias e as carteiras, as cadeiras impedem que as pessoas conseguiam dizer a única palavra. Foram as cadeiras que permitiram que as pessoas mentissem e dissessem qualquer coisa, antes não dava.

Por isso que eu sugiro que para por fim a mentira que existe que todo mundo sente de agora em diante como índios.


Eu ensino, você paga uma perna, cruza com a outra perna e senta, fica bem molinho e pode conversar com seu amigo do lado. E quando tiver bem relaxadinho, possa soltar um PUM bem sincero.