É de assustar a onda de incêndio em favelas que tem dizimado
São Paulo no último ano, números maiores que os de 2011, e mais ocorrências que
em qualquer outra parte do Brasil. Justo quando a cidade vive sua valorização do
solo mais áurea, e pouco antes de sediar um dos maiores eventos imobiliários do
globo, no caso da Copa do Mundo.
O que mais me chama a atenção é de como alguém é capaz de ligar
estes incêndios a causa fortuita, afinal de contas estas favelas são construídas
com material combustível e abarrotadas de gatos, nada mais explosivo. Alguém lembrou
que as favelas do Rio não possuem status muito diferente das favelas
paulistanas, e nem por isso estão pegando fogo.
Na verdade que valer se de incêndios para remover indesejáveis
habitações de pobres, tem sido ferramenta usada, como bem lembra Mike Davis no
seu livro Planeta Favela. Por isso não causa espanto a estratégia, apesar de
causar indignação. O que mais me deixa estupefato é o fato de que se crê mais
na historia da Travesti que queimou o amante(Bem providencial esta briga de
namorados).
Parece que existe um codificador na cabeça de alguns dos cidadãos
de nossa cidade que sempre desqualifica qualquer tipo de argumento que coloca o
capital como o criminoso.
“Capital? Criminoso? Jamais!”
Ao mesmo tempo em que gosta de uma trama novelesca, na qual
o olho do furacão tem epicentro em uma tragédia passional. Conversar com essa gente é quase que fazer
tese sobre narrativa. O que importa não são os fatos, mas a construção da
trama, algo mais estético que fático. Alguém já experimentou este método antes,
e não terminou muito bem.
Da-lhe Manoel Carlos neles.
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