sábado, 15 de setembro de 2012

A Grande Jardin


Condomínio parece ser o reino da mediocridade. É impressionante como as pessoas o ignoram, ou quando dirigem no alguma atenção é para se estapear pelas picuinhas mais burlescas, quase um passatempo. Certa amiga do meu pai, uma valorosa síndica, quis uma vez arborizar o conjunto no qual vivia. Foi voto vencido na assembléia dos vizinhos, perdeu para o argumento “quem vai cuidar dessas plantas se aqui só mora aposentado”. Acabou que os prédios foram rodeados por um bonito tapete de cimento. Nota zero.
Mas sei de coisas mais terríveis, como a proibição carola de crianças correndo e se divertindo pela área comum, que de comum mesmo só lhe resta o constrangimento que os vizinhos compartilham durante a viagem de elevador.
É impressionante como uma coisa que aparentemente pode ser interessante, que é a decisão de um grupo de pessoas coletivamente sobre temas de aproximação concreta e imediata, se transforma no reino do individualismo e oportunismo. Como se isto, que poderia ser um exercício de convívio, se torna a maior demonstração de como é desagradável conviver com o outro. Como se as aulas de somatória, só demonstrassem a inutilidade da matemática.
Não consigo entender como as pessoas podem ignorar algo que acontece na mesma edificação que as abriga. Moro em casa, talvez nunca realmente entenda.
Mas o que eu acho mais incrível é que diante da ingrata tarefa de sindico, os condomínios têm terceirizado suas tarefas a empresas de administração, acho que não tudo, só o executivo, mas que já é bastante coisa. Daí vem o mar de aberrações, como a empresa cortar energia de morador inadimplente, estipular novas regras do condomínio, fazer contratos em nomes do condomínio, um luxo que só a classe média vive em sua plenitude.
Daí pensei que essa lógica tão miudinha poderia ser ampliada para a escala da cidade. Uma grande empresa terceirizada controlaria a cidade, em um sentido mais abrangente daquele qual as PPP’s funcionam.
Mas já tiveram está idéia foi em Honduras. País democraticamente golpeado, em devidamente apoiado por ex-assessores do Pinochet, e ainda reduz as desigualdades sociais.
Olho no lance.


http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24166/honduras+aprova+privatizacao+de+cidades+com+a+justificativa+de+combater+a+desigualdade+social.shtml
Honduras aprova privatização de cidades com a justificativa de combater a desigualdade social
Regiões serão vendidas em no máximo seis meses e terão poder Executivo, Legislativo e Judiciário próprios
Classificado pelo governo do presidente Porfirio Lobo como “o mais importante projeto do país em meio século”, Honduras assinou nesta quinta-feira (06/09) um memorando no qual aprova a privatização de três cidades. Com agentes de segurança, sistema tributário e legislação própria, elas já estarão abertas para investimentos de empreendedores em um prazo máximo de seis meses.

A ideia é que as chamadas “cidades modelo" possuam poderes Executivo, Legislativo e Judiciário totalmente desvinculados do governo hondurenho. Dessa forma, suas administrações ganham autonomia suficiente para ratificar tratados internacionais, firmar parcerias bilaterais e estabelecer sua própria política imigratória.
Um grupo de investidores estrangeiros viajou a Tegucigalpa para participar da cerimônia e também assinou o documento. O argumento do governo é de que esta é uma forma de fortalecer a infra-estrutura nacional, bem como o combate à corrupção e ao tráfico de drogas. “Isso tem o potencial transformar Honduras em uma máquina de dinheiro, é um instrumento de desenvolvimento típico de países de primeiro mundo", disse à AFP Carlos Pineda, presidente da Comissão para a Promoção de Parcerias Público-Privadas de Honduras.

De acordo com Juan Hernandez, presidente do Congresso hondurenho, o grupo de investimentos MGK já se comprometeu a injetar inicialmente 15 milhões de dólares para a construção de infra-estrutura básica na primeira cidade modelo, na região da costa caribenha. A expectativa do parlamentar é a de que esta cidade crie cerca de cinco mil postos de trabalho em um primeiro momento e mais de 20 mil no futuro. Ele também revelou à AFP que a Coreia do Sul já depositou nos cofres hondurenhos quatro milhões de dólares voltados para estudos de viabilidade das obras.

"O futuro se recordará de hoje como o dia em que Honduras começou a crescer", disse Michael Strong, CEO do grupo MKGroup em meio à solenidade de ratificação do memorando. "Nós acreditamos que esta será uma das transformações mais importantes do mundo, pela qual Honduras acabará com sua pobreza e criará milhares de empregos”, concluiu.

Não é o que pensam grupos civis e organizações indígenas que classificam o projeto de Porfírio Lobo como uma “catástrofe”. Ao lado do local onde será instalada a primeira cidade privada do país, vive uma grande comunidade de indígenas Garifuna que se opõe ao empreendimento. "Esses territórios pertencem ao povo Garifuna e não podem ser entregues ao capital estrangeiro em um gesto de puro colonialismo, idêntico àquele que prevalecia em Honduras na época em que o país era chamado de república das bananas", disse Miriam Miranda, presidente da Organização Fraternal dos Negros de Honduras.

Oscar Cruz, ex-promotor constitucional, protocolou uma moção junto à Suprema Corte ainda em 2011 para alertar sobre a inconstitucionalidade do projeto. "Essas cidades pressupõem a criação de estados dentro do estado, uma entidade comercial com poderes de estado fora da jurisdição do governo”, explica Cruz. A instância judicial máxima de Honduras não concordou com seus argumentos.

"Isso violará os direitos de cada cidadão porque significa a concessão de parte de nosso território a uma cidade que terá sua própria polícia, seu próprio Poder Judiciário e seu próprio sistema tributário”, disse ao jornal britânico The Guardian Sandra Marybel Sanchez, parte de um grupo de manifestantes que tentam apelar à Suprema Corte para reverter a decisão.

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