sábado, 1 de setembro de 2012

Morto - um motivo


A TV começa a anunciar o fim da novela. Edson não consegue fixar seu olhar naquela tela chamuscada, entretanto é o único presente na sala. Parece que a deixam ligada só pelo som de fundo. Edson pensa em desligá-la, quando chega o novo marido de Miriam.
_Você que é Edson?
_Sou eu.
_Ta certo? Vai passar um tempo com a gente?
_Sim, espero que provisório.
_Eu também.
_ Gosta de futebol?
_ Gosto.
_ Pra que time?
_Santos.
_ Eu sou Palmeiras.
Olha distraído para o braço. Mata um pernilongo.
_Da onde você conhece a Miriam?
_Ela não te conto?
_Acho que talvez ela tenha dito algo. Foi da casa do ex-marido.
Edson não sabia como reagir.
_Eu fui ex-marido dela.
_É verdade, é verdade. Continua entretido com os insetos.
_Faz tempo que vocês tão casados?
_É verdade mesmo.
Edson se ajeita na cadeira dura, enquanto o sujeito acomoda o corpo pesado no sofá. Aquele sofá era seu, Edson que havia comprado, era ele senhor daquele móvel, mas não tinha condições de reivindicar nada.
_E você trabalha com o que?
_Agora eu to sem trabalhar com nada. Mas eu era eletricista.
_É bom né. Sempre tem emprego.
_Amanhã eu já vou procurar alguma coisa.
_Você vai achar rápido. Mas escuta, por que você voltou pra cá?
Edson se incomoda com a pergunta, não tanto por ela sugerir que ele devesse partir, mas porque talvez sua volta tivesse algum objetivo. Até aquele instante não tinha se dado conta que talvez deveria cumprir um papel, o qual ele ainda não sabia. Pensa em dar uma razão qualquer para o proprietário da casa, mas o sujeito volta a caçar mosquitos.
_escuta, você gosta de futebol.
Edson diz que não,  lhe deseja uma boa noite de sono e vai para a sua cama improvisada.

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