Passou agora
uma reportagem no “Opinião Nacional”, na Cultura falando dos baixos níveis de educação
do Brasil. Começa a reportagem narrando a tragédia no interior do sertão de
mulher, que o pai achava que estudo era coisa de macho, ela pois nunca teve a
oportunidade de aprender a ler. Em seguida veio a argumentação do fim do mundo
que é este país. A única surpresa na matéria, foi que um dos debatedores,
filosofo da USP, concluiu, para espanto de todos, que esta educação abstrata
que se defende nas rodas de classe média, não é o caminho positivo para
desenvolvimento, senão o capital brazuca não teria ido até onde foi, sétima
economia do mundo.
Concordo
que esta defesa abstrata da educação é tão produtiva quanto pudim de paçoca,
entretanto queria tocar outro ponto. A ONG Ação Educativa divulgou estudo que
38% dos universitários são analfabetos funcionais. Apesar do relatório da instituição
concluir que a popularização do ensino superior ser a culpada por dados tão deprimentes,
38% é um número importante, indicando uma razão mais estrutural.
Fugindo dos
dados, lembro do relato de um filho de um ex-deputado, morador de Alto de
Pinheiros, pertencente a família paulistana de sobrenome, que dizia que seu pai
nunca lia nada em seu cotidiano. Pode parecer caricato, mas não acredito que não
me engano quando afirmo que a nossa querida elite não seja formada por exatamente
ratos de biblioteca.
Lembro de
outro sujeito que alcançou nível de pós graduação, e que afirmava com segurança
jesuítica, que a Folha de São Paulo era um veiculo dilmista (não farei esforço aqui
pra defender que a posição da Folha é oposicionista). O senhor dizia ser leitor
diário da Folha, o que me chamou mais a atenção, pois parecia que ele tinha
serias dificuldades em apreender o discurso do jornal. Apesar de acender a níveis
elevados de educação. Pode ser que eu esteja exagerando, mas a classe média tem
uma séria dificuldade de leitura, não no sentido de ser analfabeto político,
mas no sentido de não conseguir fazer interpretação de texto.
Quer dizer,
este discurso de que o Brasil é um país de brutucus e mostrar um labutador nordestino
é demasiado elitista, e acaba por desconsiderar a falta de educação estrutural
de nosso país. Não é só uma classe ou fração que carece de melhor ensino e
cultura, é a geral. É quase um buraco negro pensar que os mais privilegiados tampouco
tiveram uma boa educação.
Mas se ninguém
teve uma boa educacao, o que se defende?
Um ponto é
o retorno glorioso da reprovação continuada.
Lembro que
para o Cone sul(região para qual encontrei facilmente dados [i])
o Brasil é o país com maiores taxas de reprovação. A parte do Paraguai, é
sabido dos dados sociais e educacionais mais elevados dos nossos vizinhos, números
que eles não alcançaram reprovando mais.
Podem dizer
que o Brasil tem educação pior por isso reprova mais, e os dados do Paraguai?
Para mim a única
lógica é de que se reprova pra punir os alunos vagabundos que não gostam de se
dedicar a moralista escola. Faz sentido com a estética de cárcere que os edifícios
educativos, principalmente públicos tem assumido, cheio de grades e trancas,
com a policia rondando. Isso sim que é ensino, mais repressão, mais cartilha,
mais professor por sala, mais tempo na escola. Enquanto isso a tarefa de alfabetização,
no sentido Freiriano de leitura de mundo, vai ficando esquecida.
Pode
parecer apressada minha análise(e talvez seja mesmo). Mas duvido que a conversa
pelos circulo por ai as pessoas tenham clareza de um bom projeto educativo.
Pode conversar com qualquer um, a educação é uma panaceia totalmente separada
de um projeto que a ponha em curso. A tarefa educativa é uma tarefa
democrática, é quase impossível uma sociedade tão tacanha quanto a nossa falar
de educação sem pensar transformações sociais radicais. Enquanto não for um
processo vivo, se continuara defendendo a educação como algo que vá contra a
ela própria.
[i] http://noticias.r7.com/educacao/noticias/brasil-lidera-taxa-de-reprovacao-no-1-grau-entre-os-paises-do-cone-sul-20100917.html
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