sábado, 4 de fevereiro de 2012

morto - uma casa

Chegou diante do portão de meia altura e chamou Miriam. Ela surgiu na porta e olhou paralisada. Buscou alguma coisa que fizesse sentido, mas não conseguia encontrar.
_Oi Miriam_ disse Edson.
_Meu Deus! Pensei que estivesse morto...
_Estava. Mas agora não estou mais.
Miriam continuou olhando, olhando, olhando para qualquer coisa, olhando sem ver. Edson respondia com o mesmo cuidado aquele olhar desocupado. Ainda era manhã, e não acontecia nenhum evento além daquele encontro.
Edson pediu para entrar, Miriam consentiu com a cabeça. O portão abriu sem a exigência de chaves. João subiu os poucos degraus que o separavam da entrada sem relógio. Parou diante de Miriam, a olhou nos olhos e entrou na casa, ela foi atrás.
A casa não era grande, parecia que era distribuída em dois quartos uma sala e cozinha, as paredes eram precisamente brancas e os moveis eram suficientemente distribuídos, uma porta no fundo da moradia sugeria um jardim posterior, reforçado pelo verde que refletia vidraça translúcida. Apesar da economia de ambientes, o espaço parecia atender as necessidades de uma família enxuta.
_Faz tempo que mora aqui?
_Mais ou menos. Três ou quatro meses depois que você morreu.
_E por que vendeu a nossa casa.
_Por que eu não tinha mais interesse de ficar lá e precisava do dinheiro. Mas peguei parte do que recebi a sua mãe.
Edson sentiu um cheiro.
_Mamãe não mora aqui?
_Não.
_Quem mora então?_
Miriam molhou os lábios e respondeu.
_Moro eu, Rubinho e Carlos.
Mas sua voz saiu tão enrugada que quase ninguém entendeu a resposta. Edson parecia pouco interessado.
_Bonita esta casa.
Miriam agradeceu e fechou a conversa em favor de um longo silêncio. Os dois ficaram se olhando sem ter muito mais o que fazer.
_Quer café?
_Com um pouco de leite por favor.
Ela se levantou e foi espanando até a cozinha. Edson não acompanhou, estava encantado com a janela. Um belo jardim se desenrolava atrás da casa, cheio de galhos, sulcos, veios, verdes e marrons. Era tudo muito mais do que Edson conseguia lembrar, parecia que tudo era repleot de sabor. Miriam chegou com o café amargo. Edson debruça sua boca sobre a bebida. O problema do café é que eles nos deixa acordado e infla nossa cabeça de idéias, corrompendo todo o silencio. Aquela casa era muito melhor da casa que ele tinha, Miriam parecia mais tranqüila do que nunca, e o café era demasiado amargo.
_e agora pra onde eu vou?
Miriam juntou os ombros e sentenciou.
_Eu não sei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário